A revolução dos veículos elétricos está em curso. Cada vez mais presentes nas ruas, esses automóveis são vistos como parte essencial da transição para um futuro mais sustentável. Porém, a chegada dos carros elétricos aos condomínios residenciais impõe uma realidade desafiadora: como adaptar a estrutura dos edifícios para garantir um carregamento seguro, eficiente e em conformidade com as normas técnicas?
No Brasil, muitos prédios — especialmente os construídos há mais de duas décadas — não foram projetados para suportar a demanda elétrica adicional necessária para alimentar diversos pontos de recarga simultaneamente. A ausência de infraestrutura adequada pode causar sobrecargas, falhas nos sistemas elétricos e, em casos extremos, incêndios. Por isso, a questão vai muito além da comodidade: é uma pauta de segurança condominial.
A norma ABNT NBR 17170/2022, que trata das garantias das edificações, estabelece diretrizes para manutenção preventiva e uso adequado da infraestrutura, reforçando a importância de se respeitar a vida útil do projeto e os prazos de garantia. Ela está diretamente ligada à segurança dos pontos de carregamento e à responsabilidade técnica de todos os envolvidos — síndicos, administradoras e condôminos.
A norma determina que instalações de recarga precisam ser planejadas com base em análises da capacidade elétrica do prédio, e que a manutenção periódica é indispensável. Além disso, recomenda que manuais de operação e manutenção incluam orientações específicas para o uso seguro das estações de recarga. Caso essas práticas não sejam seguidas, a cobertura de garantias pode ser comprometida — e os riscos, ampliados.
Outro ponto de atenção é a exigência de registros formais de todas as atividades de manutenção. Isso está previsto na norma ABNT NBR 5674, que estabelece os critérios para um sistema de manutenção bem estruturado. Para os síndicos, isso significa manter um histórico atualizado de inspeções, melhorias, reparos e orientações aos moradores, resguardando o condomínio legal e tecnicamente.
Além dos desafios técnicos, o avanço dos carros elétricos no Brasil esbarra em fatores econômicos. O custo ainda elevado desses veículos, somado à carga tributária e à ausência de incentivos governamentais efetivos — como subsídios, isenções fiscais e financiamento para infraestrutura — limita o acesso e desacelera a popularização. Diferentemente de países como Noruega e China, que adotaram políticas públicas agressivas para estimular a eletrificação da frota, o Brasil caminha em ritmo mais lento.
Contudo, mesmo com essas barreiras, o cenário é irreversível. A tendência global aponta para um crescimento exponencial dos veículos elétricos, impulsionado por metas ambientais e pela pressão do próprio mercado. Os condomínios que se anteciparem e investirem em estrutura, segurança e conscientização se posicionarão à frente, agregando valor ao patrimônio e promovendo qualidade de vida.
É papel do síndico liderar esse processo com visão estratégica, alinhando tecnologia, normas técnicas e responsabilidade coletiva. O futuro já está estacionado na garagem — e cabe aos condomínios decidir se irão acompanhá-lo ou resistir até que o risco se torne inevitável.
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Consultora de Gestão de Condomínios, especializada em assessoria para síndicos e administradoras, com certificação @sindico5estrelas. Contadora formada pela PUCRS e pós-graduada em Gestão Profissional de Condomínios pela UNIMAIS, atua com foco em eficiência e profissionalização na administração condominial.